quarta-feira, 17 de junho de 2009

ingrata surpresa

Morena, uma cadelinha de rua, que fez da porta da minha casa, sua residência, foi atropelada na última segunda (15), à tarde. Ela transitava por lá, como sempre faz, ao ser atingida por um motorista irresponsável. E ele é realmente imprudente porque o local é uma rua sem saída, predominantemente residencial e cheia de quebra-molas, visto que, além das casas, há duas escolas que atendem a crianças especiais. Portanto, é quase impossível cometer um acidente desse tipo sob essas condições. Ele tentou se redimir do grave erro e conduziu Morena, em companhia de meu irmão Rogério, ao Hospital de Medicina Veterinária (HOSPMEV), órgão vinculado à Escola de Medicina Veterinária (EMV), da Universidade Federal da Bahia (Ufba). E é aqui que começa minha indignação.
Eu soube do ocorrido, superficialmente, ontem (16), no final da manhã. Tinha compromisso à tarde, mas contei com a compreensão da diretora da empresa em que trabalho, e fui ao Imbuí buscar Morena para levá-la novamente ao HOSPMEV, em Ondina, conforme recomendação dada na segunda-feira pelo médico que a atendeu. O que ficou diagnosticado foi que ela teve uma luxação na pata traseira direita (o fêmur saiu do devido lugar, mas não houve fratura). Esse quadro, obviamente, deixou o animal em estado de forte dor, aliada a inibição de excreções fisiológicas, principalmente fezes, e vômitos, apesar da falta de apetite.
Cheguei, também junto com meu irmão Rogério, ao HOSPMEV ontem, às 15h. Nunca tinha ido lá, só ouvido falar, e achava que era uma espécie de serviço público de saúde animal. Se a primeira impressão é a que fica, a minha foi péssima. Logo na entrada, o porteiro, com aquele comportamento típico do "tô nem aí" levou uns cinco minutos para abrir o portão, apesar de avisado por transeuntes sobre a minha presença, enquanto eu aguardava com a parte traseira do carro tomando um bom pedaço da avenida Adhemar de Barros e causando certo perigo ao trânsito local. Sem nem olhar para minha cara, como se me fizesse um imenso favor e de má vontade, ele lentamente puxou a grade enferrujada. Não tinha vaga. Como diz Faustão, me virei nos 30 segundos e coloquei o carro numa brecha improvisada que encontrei, enquanto Morena despejava um vômito no interior do carro.
Quando Rogério tirou ela do carro e colocou no chão, já dentro do pseudo-hospital, ela urinou. Havia um certo tempo que ela não fazia isso, portanto foi algo aceitável. Mas a urina ficou lá. Ninguém limpou. Não havia funcionário responsável por isso. Outras pessoas e cães passaram, pisaram e a urina secou. Antes de ser atendido, dei uma olhada ao redor. Muita gente. Calor. Moscas. Fedor. Sujeira. O piso estava absurdamente encardido. Pensei e lamentei: esse é mais um retrato de um serviço público gratuito no Brasil. Foi certamente por isso que sequer limparam o xixi de Morena e esse quadro lastimável que relatei. Ledo engano. O HOSPMEV não presta nenhum tipo de serviço público de graça. Tudo lá é pago. Têm as máquinas de cartão de crédito (para parcelar em, no máximo, duas vezes, o valor tem que ser acima de 100 reais) e tabelas de preço de todos os procedimentos. O cliente mal avisado terá custo até se for levar seu bichinho para cortar as unhas, imagine um procedimento cirúrgico, como o caso de Morena? Acontece que lá tem toda a "cara" de um serviço público, que em nosso país significa desrespeito e imundície, mas não é. Nós estamos tão agredidos com as mazelas dessa nação nojenta, que se fosse gratuito, eu suportaria. Retado, mas calado. Porém, como diria Lady Kate: "tô pagando"... aí não dá!
Tivemos um atendimento bem ruim logo na recepção. O funcionário agiu como quem "não gostou" que tivéssemos levado ela às 15h. Ele considerou um horário tardio. Tomamos uma bronca dele! Mas ele achou tardio pelo seguinte. O horário de atendimento do HOSPMEV é hilário: de 8h às 10h30 e das 14h às 15h30. Depois do "escalde", foi a vez do chá de cadeira (aliás, um banco todo por um e de assento duro e exageradamente desconfortável), de duas horas, em meio àquele ambiente horrível e angustiante. Como é possível um hospital com um quadro composto por 10 médicos veterinários, um farmacêutico, dois biólogos e infinitos estudantes, o paciente esperar duas horas para ser atendido? E pagando por isso??? Parece piada de mau gosto. Antes fosse.
Na hora do atendimento (coletivo por sinal, pois já tinha um gato lá...???... e depois entrou outro cachorro), mais decepção. Nítido desdém por parte da equipe médica, pois enquanto uns atendiam, outros conversavam, tiravam e esclareciam dúvidas, entravam e saíam... um desrespeito geral. Apesar de terem recomendado trazer ela logo no dia seguinte e da demora no atendimento pouco personalizado, o especialista em ortopedia animal não estava lá. Morena foi amordaçada com uma fita de nylon (como assim???)! Isso mesmo, uma fita de nylon improvisada que a veterinária chamou de mordaça ao ir buscar. Após analisar a radiografia, a médica disse que o recomendado é a cirurgia mesmo, visando a amputação da cabeça do fêmur, com garantia de que ela iria andar normalmente e sem sequelas. Pedi o orçamento. Incluindo anestesia e materiais, a cirurgia custa 380 reais. Como um cão doente e espumando de raiva, cutuco Renato Russo e pergunto: "que país é este"?


P.S.: além da pergunta oriunda da canção de Russo, há uma outra questão mais particular. Visto que todo mundo ali é funcionário público e a estrutura é consideravelmente precária, para onde vai esse dinheiro?

2 comentários:

Gusmão disse...

...é meu jovem, esse é a nossa realidade.Pagamos impostos para financiar alguns produtos publicos,mas é incrivel como na hora de usurfruir pagamos um preço tão alto.Digamos que MOrena ainda deu sorte de ser atendida no msm dia,caso ela fosse um ser como nós,com certeza entraria uma fila à espera de atendimento por dias,e um exame feito por ela lá, levaria no minimo uns 15 dias pra fazer...(E OLHE LÁ)TEM EXAMES QUE SÓ TEM VAGA EM MARÇO DE 2010.Vivemos numa MISERIA incondicional....

Daniel disse...

além da pergunta oriunda da canção de Russo, há uma outra questão mais particular. Visto que todo mundo ali é funcionário público e a estrutura é consideravelmente precária, para onde vai esse dinheiro?

Bôa pergunta meu caro!!!