sábado, 30 de setembro de 2006

uma multidão em uma

Radicada em São Paulo, mas natural de Salvador, Vania Abreu começou a carreira cantando em bares da capital baiana. No início utilizava o sobrenome Mercury (originalmente Mercuri, oxítona), o mesmo da irmã famosa. Porém, buscando independência e autenticidade artística, optou por empregar o Abreu. Aliás, em uma das apresentações nas noites da cidade, foi convidada a ser backing vocal do cantor e compositor Gerônimo. Depois dessa experiência, montou a banda Biss. Porém, mesmo após apresentações em carnavais e para grandes multidões, ainda não estava realizado seu maior objetivo profissional.
Em busca de outros caminhos e panoramas na profissão, desembarca, com a cara e a coragem, na capital paulista. Nessa época surgia uma renovada safra de artistas, e Vania fazia parte da chamada “nova MPB”. O primeiro disco, lançado em 1995, emplacou sucessos como “As quatro estações”, uma parceria de Maurício Gaetani, Ary Sperling e Cláudio Rabello, e “Templo”, cujo autor é o paraibano Chico César. O segundo disco saiu em 1997, intitulado “Pra mim”. É nesse trabalho que ela interpreta magistralmente a belíssima canção “Dó de mim”, do cantor e compositor baiano Péri.
Mas a grande alavanca da carreira-solo dela ocorreu com o lançamento do terceiro CD, denominado “Seio da Bahia”. A diversidade musical desse trabalho proporcionou-lhe reconhecimento nacional. A faixa homônima ao título conta com a ilustre e carinhosa participação de Daniela Mercury. Por se considerar sem tribo ou rótulos musicais, batizou seu 4º CD como “Eu sou a multidão”, cuja fotografia principal retrata, paradoxalmente, um calçadão deserto, em plena luz do dia, no centro de São Paulo. Nesse álbum percebe-se uma intérprete mais madura e consciente de sua capacidade (ela é uma das preferidas da cantora Maria Rita). Destaques para a regravação da canção “Minha Alma (A paz que eu não quero)” do grupo carioca O Rappa e a gravação da gostosa “Pra falar de amor”, dos compositores Tenison Del-Rey e Paulo Vascon. Uma detalhada e aprofundada pesquisa sobre as canções brasileiras que dialogam com o nosso carnaval. Essa é a ênfase do seu mais recente trabalho. A paternidade do disco é dividida com o seu marido, o cantor e compositor paulista Marcelo Quintanilha. Assumidos fãs da maior festa popular do planeta, escolheram meticulosa e cronologicamente o repertório.
Vania empresta seu cantar suave e penetrante a composições que vão de Ary Barroso a Benito de Paula, Vinícius de Moraes a Carlinhos Brown, sem esquecer Gil, Caetano e Chico. Dentro desse universo, “Pierrot e Colombina” (título do disco) retrata a gama de sentimentos que permeia o carnaval com arranjos envolventes e muitíssimo bem elaborados.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

infinito particular

Recentemente, Marisa Monte lançou dois discos de uma vez no mercado. Havia mais ou menos cinco anos que ela não gravava um disco. Mas quando esse dia chegou, foi com direito a bis. Já tenho a dupla de CD's e realmente são dignos da artista. Permanecem as bem sucedidas parcerias com Brown e Arnaldo Antunes e vai além. Tem composições de Adriana Calcanhotto, Pedro Baby (filho de Pepeu e Baby), Seu Jorge, Nando Reis e até Marcelo Yuka (ex-Rappa). São de primeira linha.
Eu queria destacar e postar aqui a primeira canção do disco "Infinito Particular" (o pretão!), pois encontrei, na primeira audição, uma perfeita sintonia comigo. A música é homônima ao título do disco e foi composta pelo trio: MM/AA/CB.

P.S.: a música está grafada no feminino, mas não cometi a bobagem de convertê-la para o masculino para provar que sou macho! Não careço disso.

eis o melhor e o pior de mim
o meu termômetro, o meu quilate
ve, cara, me retrate
não é impossível, eu não sou difícil de ler
faça sua parte
eu sou daqui e não sou de Marte
ve, cara, me repara
não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim
só não se perca ao entrar no meu infinito particular
em alguns instantes, sou pequenina e também gigante
vem, cara, se declara
o mundo é portátil pra quem não tem nada a esconder
olha minha cara
é só mistério, não tem segredo
vem cá, não tenha medo
a água é potável daqui, você pode beber
só não se perca ao entrar no meu infinito particular

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

chama acesa pernambucana

Uma verdadeira fusão de música, teatro e poesia. A banda pernambucana Cordel do Fogo Encantado, nascida no final da década de 1990, a partir de um espetáculo teatral, é compreendida sob essas características. Surgiu na cidade de Arcoverde (entrada do sertão de Pernambuco) e é composta por cinco jovens: Lira Paes, Clayton Barros, Emerson Calado, Nêgo Henrique e Rafa Almeida.Tendo como base musical a força percussiva, adota uma salada rítmica que vai desde samba de coco, reisado e candomblé ao toré indígena. Outra marca do grupo é o lirismo das suas composições, que ganhou projetividade ao mesclar-se com o rufar dos tambores. Essa junção colocou a música como expressão maior do conjunto. A condição de revelação da música brasileira no início do ano 2000, aconteceu após apresentação no carnaval pernambucano. Eles conquistaram o público e a crítica.
O Cordel do Fogo Encantado encanta pela sua originalidade e pela ousadia de misturar letras-poemas entre verdade e entretenimento, divino e mundano, elementos sonoros e literários, batuque e poesia declamada. Os componentes da banda são pós-adolescentes que sofreram influências da literatura de cordel, festas populares típicas da região, mas também de hard core e rock and roll. Podem ser definidos como um retrato do Brasil, por trazerem na sonoridade elementos de repentistas, cantadores e indígenas, por tornarem macro o que, a princípio, soava regional.
A forte noção de espetáculo aliada ao fervor da percussão seca transformam as aparições do grupo em algo transcendente. Quem assistir a uma apresentação, gostando ou não, jamais sairá incólume. A entrega dos artistas é extremamente contagiante. Após Chico Science e sua Nação Zumbi desbravarem os manguezais brasileiros, o Cordel do Fogo Encantado é o maior surgimento da cena musical pernambucana.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

vamos comer feijão... com arroz

Nem tudo está perdido. Há uma luz no fim do túnel. Veja o motivo. É sabido que o mercado brasileiro ainda ostenta uma carga pesada de desempregados. Nas 6 maiores regiões metropolitanas do país, há mais de 2,4 milhões de seres humanos em busca do almejado emprego e mais de 8 milhões sem laborar, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma situação pouco animadora.
Em contrapartida, desde 2004, mesmo que pelejando, há um processo evidente de recuperação da economia do Brasil. Basta reparar no número de contratações formais e informais, por exemplo, no último verão, nas grandes regiões brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife). Superou o número de demissões em mais de 1 milhão. Aliás, a taxa de desemprego vem cumprindo sua tendência: recuou. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, passou de 10,7% nos últimos dois meses, para 10,6% em agosto. Em São Paulo, maior metrópole da nação, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada nesta terça-feira (26) pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa caiu para 15,9%. O menor índice dos últimos 9 anos.
Esse texto não tem a finalidade de enaltecer a hipocrisia, mas a situação de emprego e renda no país já mergulhou em águas mais turvas. Se grandes corporações já não consideram mais inglês fluente, MBA e cursos de especialização como adjetivos interessantes, mas como exigências, há discrepâncias no mercado empregatício. Empresas como as redes de supermercados GBarbosa e Hiperideal (genuinamente baiana e pertencente aos donos do extinto Peti Preço), que empregam, de fato, centenas de indivíduos, adotam uma tática peculiar. Como pré-requisito ao candidato não exigem a “idade padrão” (18 a 25 anos), nem a tão crucial experiência profissional. A lógica adotada pelos empresários consiste na eliminação de ranços maléficos adquiridos em outras instituições. Eles oferecem treinamento completo e adequam o funcionário aos seus moldes. Daí vão dizer: “é preciso dominar outro idioma para trabalhar como caixa ou repositor em supermercados?”. Claro que não.
Porém, a briga constante (e saudável ao consumidor) entre lojas de varejo em Salvador, como Insinuante, Ricardo Eletro e, mais recentemente devido à inauguração de grandes magazines, a Romelsa, comprova uma hipótese: o grande veio do mercado consumidor, que faz rodar a economia do país, é o proletário brasileiro, é o assalariado de baixa renda. Quanto mais e mais estiveram trabalhando, melhor. A economia agradece.
A recuperação econômica do Brasil deve muito ao mercado interno, em função do aumento do consumo das famílias. Empregos estão sendo engendrados, também, além do comércio (primeiro lugar, com 19% do total), em indústrias de alimentação, bancos, e empresas de call center. Estas, em Salvador, quebram recordes. Das mais de 50 mil vagas originadas no país, cerca da metade pertence à capital baiana, segundo dados da Associação Brasileira de Telesserviços (ABT). Tudo é call center. Às vezes, inegavelmente, incomoda, é chato. Porém, contribui para o desenvolvimento da economia brasileira. São milhares de pessoas ingressas no mercado, principalmente estudantes de nível médio e universitário. Diga-se, de passagem, as duas maiores empresas de call center do país possuem unidades em Salvador. Diluindo em números, a Contax gera, aproximadamente, 6 mil empregos na capital baiana e a Atento Brasil, mais de 5 mil. Em todo o país, o setor emprega 630 mil pessoas, com perspectivas de criação de mais 35 mil postos de trabalho, segundo a ABT.
Há, sim, que se comemorar. Para o futuro, segundo especialistas, está projetado um cenário de crescimento médio anual de 3,4% até 2012. A redução dos trabalhos precários (bicos) e o considerável acréscimo do salário mínimo, influenciaram e impulsionaram a economia, mesmo representando uma coronhada na cabeça das micro e grandes empresas. Mas quem consome e paga juros e mais juros é o povão. É na massa consumidora que está o filão. Certo que 350 reais não é salário digno, honroso. A situação ainda está manca, mas já capengou mais. Não dá pra cumprir a constituição (bendita constituição!): todo cidadão tem direito a alimentação, saúde, lazer e blá, blá, blá...
O título deste texto remete a uma longínqua canção do Caetano Veloso, mas para finalizar, recorre-se aos Titãs, que já perguntaram: “você tem fome de quê?”. E eles mesmos responderam: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão, balé”. Lentamente, estão sendo dados alguns passinhos. Na mesa já dá para colocar o principal, e com complemento.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

mais que fatal

Em 1979, Roberto e Erasmo Carlos escreveram uma canção, cujo título era: “Meu nome é Gal”. A conhecida dupla de compositores referia-se e dedicava a música a uma cantora baiana chamada Gal Costa. Já nessa época, seu tom inigualável devido a um potente agudo na voz, agraciava os ouvidos dos brasileiros. Batizada Maria da Graça Costa Penna Burgos, ela nasceu na cidade de Salvador, na Bahia, em 26 de setembro de 1945. Aos 20 anos de idade iniciou sua carreira.
Assinava ainda como Maria da Graça, quando participou de uma faixa no primeiro disco de Maria Bethânia, cantando, muitíssimo bem, “Sol Negro”, de Caetano Veloso. Em seguida gravou um compacto (pequeno disco contendo duas faixas e, há tempos, extinto pela indústria fonográfica) com as canções “Eu vim da Bahia”, de Gilberto Gil e “Sim, foi você”, de Caetano Veloso.
O primeiro disco da sua carreira foi em parceria com Caetano, em 1967, já como Gal, intitulado “Domingo”. No ano seguinte adere ao movimento tropicalista, em solidariedade ideológica aos parceiros e conterrâneos Caetano e Gil.
Considerada um ícone feminino por transgredir as convenções do momento, lança seu primeiro LP individual, enfim como Gal Costa, em 1969. As décadas seguintes serviram para sedimentar a imagem de Gal Costa. Uma intérprete ímpar e de cantar inebriante. Ajudou a apresentar ao Brasil, compositores como Luiz Melodia, Moraes Moreira e Djavan, e o poeta baiano Waly Salomão. Durante a carreira homenageou outros grandes autores musicais do país em discos inteiros, como Dorival Caymmi, Tom Jobim e Caetano (o mais gravado da sua carreira) e Chico Buarque, os dois últimos no disco “Mina D’água do meu Canto”, de 1995.
No seu mais recente CD (“Hoje”), gravou compositores novíssimos e, até então, inéditos na sua carreira, como os baianos Péri, Tito Bahiense e Moisés Santana. Gal Costa sempre buscou, na elaboração dos seus discos e escolha de repertório, aquilo que soasse original, genuíno. Essas e outras características a fazem compor, junto com Dalva de Oliveira e Ângela Maria, Elis Regina e Maria Bethânia, o panteão das maiores vozes femininas brasileiras de todos os tempos.
P.S.: Gal completou 61 anos de idade hoje.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

a canhota mágica

Nos arrabaldes de Buenos Aires, em 30 de outubro de 1960, nasceu Diego Armando Maradona. O fato de ser de origem pobre ajudou-lhe a valorizar mais as conquistas e enfrentar com franqueza os percalços de uma vida conturbada.
Ainda com três anos de idade, ganha um presente que se torna inerente à sua trajetória profissional: uma bola, com a qual ele dormira abraçado e iniciara uma íntima relação.Com 10 anos de idade, quando já abrilhantava os péssimos campos de várzea da região, foi convidado a participar do Cebollitas, formação infantil do time Argentino Juniors.
Exatamente há 10 dias para completar 16 anos, “el pibe de oro”, como era conhecido, estreou no Argentino Juniors, por onde permaneceu durante cinco temporadas.
Mesmo contra uma ovação pública, não foi convocado para a Copa do Mundo de 1978 (quando ainda tinha 17 anos) realizada na própria Argentina. Seus dribles desconcertantes e precisos, entretanto, ajudaram-lhe a conquistar, pelos juvenis da seleção argentina, o título mundial de 1979, disputado no Japão.
É contratado pelo seu time de coração: o Boca Juniors. Maradona, então com 21 anos de idade, sagra-se campeão nacional. Sua identificação com a equipe mais popular do país foi tamanha que ele se tornou uma espécie de símbolo do clube. A essa altura Diego Armando já era maior astro do futebol mundial.
O Barcelona, tradicional time espanhol, manifesta interesse na aquisição do craque argentino. Devido a dificuldades financeiras, o Boca cede às investidas do clube catalão e vende seu diamante, que promete um dia voltar.
Assina o novo contrato em junho de 1982. Contudo, antes da sua estreia no Barcelona, veio a Copa do Mundo deste ano, ocorrida na Espanha. Não conseguiu produzir, a partir das oitavas-de-final, o que se esperava dele. Uma forte e violenta marcação do escrete italiano inibiu Maradona de fulgurar na partida. Contra a Seleção Canarinho, idem. Após uma entrada impetuosa no defensor brasileiro Batista, foi expulso de campo na derrota e desclassificação argentina. Após a Copa e há menos de dois meses para completar 22 anos de idade, faz sua estreia no clube europeu.
O argentino tinha o objetivo de fazer jus ao investimento do time da Catalunha, mas no início da temporada uma hepatite o afastou dos gramados. Apesar de ter brindado o mundo com jogadas e gols espetaculares vestindo a camisa do Barcelona, o craque diz se sentir só, perseguido e até discriminado em terras espanholas. Os 58 jogos e 38 gols marcados podiam ter se ampliado, caso Maradona não fosse obrigado a ficar ausente da profissão por longos 106 dias. Em setembro de 1983, após uma veemente entrada que sofreu, teve um dos tornozelos fraturado. Despediu-se do Barcelona, sem títulos, em maio de 1984.
A carência de títulos seria saciada a partir da sua chegada ao Napoli, da Itália, em julho de 1984, por onde ficou durante sete anos. Diferente de Barcelona, foi agraciado e adotado por toda a cidade italiana de Nápoles desde o início. Em troca, correspondeu mudando e marcando a história do time e da cidade napolitanos para sempre. Foi como jogador do Napoli que conquistou a Copa do Mundo de 1986 pela sua Argentina, realizada no México.
No auge da carreira, aos 25 anos de idade, comandou a seleção argentina rumo ao título. Antes do torneio ele disse que seria a sensação da Copa. A profecia se concretizou: ele realmente foi soberbo!Apesar de acanhado na estatura, Diego Maradona era incomensurável na arte da bola. Protagonizou partidas inesquecíveis na Copa de 86, porém nenhuma como aquela contra a Inglaterra. “La mano de Dios”, essa é a definição do craque para o 1º gol contra os ingleses. Minutos após tal façanha, Dieguito provou ser, de fato, excepcional ao marcar o gol mais bonito da história dos mundiais.
O craque, no sentido mais literal da palavra, recebeu a bola ainda em seu campo, próximo à linha que divide o gramado e cercado por três ingleses. Vale interromper para lembrar o patriotismo argentino (característica, aliás, típica dos latinos, exceto dos brasileiros), já que ele conduzia seu país, ainda ferido pela derrota na guerra das Malvinas. Com um giro sobre o próprio corpo, livra-se dos primeiros adversários, em um ato que, regido por ele, parece bem fácil. Sempre sob o comando exclusivo do prestigiado pé esquerdo, com leves toques na redonda, cabeça erguida, corpo em prumo e dribles objetivos, ele consegue deixar mais três oponentes ao léu. Após o mais absoluto desespero contido na saída do arqueiro, o gênio finta também este para, caindo, empurrar a bola às redes vazias.
Após o título e consagração na Copa do México, regressa à Itália e ratifica tal ato. Pelo time napolitano é sublime e conquista os inéditos nacionais de 1987 e 1990 e também o único torneio internacional do clube: a UEFA de 1989. Maradona atesta a condição de melhor do planeta e parte para sua 3ª Copa do Mundo, em 1990.
Ironia ou não do acaso, realizada na Itália. Em mais uma peça pregada pelo destino, os argentinos enfrentam os próprios italianos em jogo eliminatório. Sem o apoio dos torcedores napolitanos, mesmo após pedido de Diego, a Argentina despacha a Itália em cobranças de pênaltis. Em nova final entre alemães e argentinos, os germânicos se deram melhor: 1x0.
Devido à falta de diplomacia durante a Copa e algumas atitudes indisciplinares de Dieguito, o clima entre ele e o Napoli muda após o torneio mundial. O casamento está chegando ao fim. O cúmulo ocorre em março de 1991 (ainda com apenas 30 anos), quando Maradona é punido em razão de um exame antidoping com resultado positivo. Ele é suspenso por 15 meses e deixa a Itália. Iniciava-se a decadência do craque.
Já sem a resplandecência de outrora, estreia no Sevilla, da Espanha, às vésperas de rematar 32 anos. Em apenas oito meses de estadia e oito gols assinalados, despede-se do time espanhol. Na data de seu 33º aniversário, após regresso à sua terra-natal, estreia no modesto Newell’s Old Boys. Foi uma passagem relâmpago e sem expressividade, característica destoante do famoso “pibe de oro”. Nenhum gol marcado nos cinco jogos em que atuou. O consumo de drogas, a essa altura, é a maior especialidade dele.
Mesmo com a queda de rendimento considerável na década de 90, o craque não perde a pompa e o amor a sua seleção. Alça voo aos Estados Unidos, em 1994, rumo a participar da sua 4ª e derradeira Copa do Mundo. Breve participação, aliás. Ainda nos jogos classificatórios, ao contrário do que imaginavam os críticos, faz excelente partida e belo gol contra a Grécia, na vitória do selecionado argentino. É sorteado para o exame antidoping. A saída do gramado estampando um sorriso maroto e de mãos dadas com a representante da operação, não ameniza a veracidade do fato. Maradona foi banido da Copa, em virtude da presença de Efedrina (substância excitante absorvida irregularmente) encontrada em suas excreções.
Acima do peso e longe de encontrar o esplêndido futebol dos tempos áureos, cumpre a promessa e retorna ao Boca Juniors. Neste momento ele tem, praticamente, 35 anos de idade.
Há exatos cinco dias para fechar 37, Diego Armando Maradona, lutando contra as drogas, despede-se definitivamente do futebol. Ainda que sensíveis problemas pessoais o afetassem e tivessem abalado sua carreira nesta década, a encerra com honras de rei e ídolo inesquecível da torcida. O último jogo foi uma coroada vitória sobre o rival River Plate, em pleno estádio Monumental de Nuñes.