quinta-feira, 28 de junho de 2007

universidades ajudam na reinserção social do idoso

Além das igrejas e das alternativas de bairro, instituições de nível superior, como a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e as Faculdades Integradas Olga Mettig ajudam a inserir o idoso na sociedade. As instituições oferecem cursos e oficinas, cujo desenvolvimento eleva a auto-estima e melhora as relações humanas dos mais velhos. Uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que existem 25 mil pessoas com mais de 100 anos de idade no Brasil. Esses números apontam para a necessidade do surgimento de projetos voltados ao melhor convívio social do idoso.
A Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) é um programa ligado a Pró-Reitoria de Extensão da Uneb. Conforme a vice-coordenadora do programa, Sônia Bamberg, os resultados são positivos. “Aqui se encerraram inúmeros casos de inibição, depressão e falta de amizades e comunicação social”, diz. Os pré-requisitos são a idade mínima de 50 anos e uma contribuição mensal de R$10,00, mas existem casos especiais. A desempregada Maria Francisca dos Santos, 47 anos, há seis no curso, devido a sua baixa renda, ficou isenta da taxa. “Depois da UATI melhorei meus problemas de saúde, não passo fome e tenho muitos amigos”, afirma. O fato de dispensar a mídia para a divulgação do programa não compromete sua demanda. “Atualmente, temos 600 alunos e mais de 300 em espera”, entusiasma-se Bamberg. Para ela, os comentários boca-a-boca surtiram efeito além do esperado. “Somos obrigados a encaminhar alguns candidatos a grupos de convivência das comunidades locais”, revela. A preferência da UATI é atender a idosos de baixa renda, residentes na região do bairro do Cabula, como a aposentada Selma Barreto, 64 anos, moradora da Engomadeira. De acordo com sua filha, a universitária Andréa Barreto, 26 anos, a principal melhoria percebida na sua mãe, após o ingresso na UATI, no ano de 2000, foi a desinibição.
As atividades oferecidas pela Faculdade Livre da 3ª Idade (FLTI), um curso de extensão universitária das Faculdades Integradas Olga Mettig, têm o objetivo de atualizar o conhecimento. De acordo com a coordenadora do programa, Maria Lúcia, a FLTI não segue padrão ou currículo determinado. “Nosso intuito é fazer o idoso descobrir novas habilidades e desenvolvê-las”, diz. Para a pedagoga, o relacionamento com pessoas da mesma geração, torna o ancião mais dócil e sociável. Ela também aponta o vazio e a solidão como fatores relevantes para a busca do idoso por grupos de apoio. “Há depressão que causa isolamento, doenças e óbitos precipitados”, afirma. Na FLTI, em 13 anos de existência, o número de falecimentos não chega a 10 alunos, em turmas de 170, em média. Outro fato considerável nos programas para a terceira idade é a predominância do sexo feminino. “Apesar da menor aptidão à solidão, o homem é, naturalmente, mais refratário a certos movimentos”, define Maria Lúcia.

domingo, 17 de junho de 2007

comprando e transando: a tradução

Ao sair do teatro, após assistir à peça Shopping and Fucking, dirigida por Fernando Guerreiro, o espectador tem a sensação de despertar de um estado de transe. A sociedade hipócrita em que se está inserido o empurra para tal. Após uma análise mais fria e sensata, é que se chega ao verdadeiro teor da proposta apresentada na obra.
Shopping and Fucking é montada a partir de um texto duro e crítico de Mark Ravenhill. Um dos mais polêmicos escritos na década passada. Com objetividade e sem meias palavras, critica ferozmente essa conjuntura humana atual, sustentada apenas pelas relações de consumo exacerbado. É como se fosse um processo de “coisificação” do homem. Tudo é “comprável”: as emoções, os sentimentos, as necessidades, os desejos.
A direção precisa e incontestável de Guerreiro dá a medida exata do espetáculo. Ele usa e abusa do sexo, não para falar de sexo, mas de consumo e dependência, questões enraizadas e inerentes ao ser humano. Outro ponto relevante foi não ter aderido à “baianização” da situação e suas peculiaridades, fugindo do ridículo. Os atores estão na média. Boa média, por sinal. Jussilene Santana, segura e flutuante é o destaque, ao lado de Celso Jr., com suas aparições surpresa, e não menos pontuais e importantes. Apenas o mais jovem e promissor ator, Emiliano D’Ávila, ainda não alcançou a precisão e tom dos companheiros.
Um carro de modelo bem antiquado é o comandante do cenário. Aliás, nada melhor do que um automóvel (apesar de chutado e mal tratado!), o símbolo mor do “capitalismo selvagem”, parafraseando os Titãs. O âmago do espetáculo é detonar o comportamento das sociedades contemporâneas, que põem em pé de igualdade as dependências humanas: sejam elas físicas ou emocionais. E o interessante é a forma de abordagem do assunto. É preciso sensibilidade, percepção e preocupação com o que acontece ao redor, para compreender o cerne da questão. O que está explícito na encenação é um grupo de pessoas balbuciantes e meio sem norte. Ávidos por sexo e drogas, e fazendo disso a base de suas vidas, os personagens de Shopping and Fucking transam e transam muito. O que talvez incomode os mais conservadores e desavisados é a riqueza de detalhes sugerida em tais cenas. Por abordar temas comuns aos seres humanos em geral, pode-se definir a peça como algo existencialista e universal. A iminente discussão sobre a realidade que ela oferece deve ser avaliada com alto grau de rigor, visto que o panorama do vale-tudo presente no mundo moderno é algo angustiante e longe de agonizar.