quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

mais um carnaval

Todos os anos o Carnaval de Salvador tem uma novidade. Nada programado, nada formulado ou planejado. É, simplesmente, mais um endossamento daquele velho, mas infalível ditado: “baiano não nasce, estreia”. Pois é, depois do boom do Afrodisíaco (atual Vixe Mainha) no ano passado, quem imaginava alguma surpresa em 2007? A sensação do momento atende pelo nome de Motumbá, o refrão de sua música repete incansavelmente a palavra “bororó”, e é capitaneada pelo ex-timbaleiro Alexandre Guedes. Assim funciona o vulcão do Carnaval de Salvador, sempre a derramar novas lavas.
E tem mais: após dois anos afastado (e muito burburinho), Caetano Veloso está de volta à folia de Momo. E com a corda toda. Vai liderar, ao lado de Jauperi (ex-Olodum e, recentemente, Vixe Mainha) um trio independente com nome homônimo ao novo filme de Monique Gardenberg, baseado em uma peça do Bando de Teatro Olodum, Ó Paí, Ó. Inclusive ele assina, em parceria com Davi Moraes, a composição da canção também homônima ao filme. Já está confirmada a presença do ator baiano Lázaro Ramos, que integra o elenco do longa, a ser lançado ainda em março.
O compadre Gilberto Gil tem cadeira cativa na festa, como é de praxe, com seu Expresso 2222. Entre os convidados ilustres: os carioquíssimos Lulu Santos, Toni Garrido e Sandra de Sá, e uma justa homenagem à cantora baiana Margareth Menezes. Sempre desinteressada por fórmulas musicais, que visam exclusivamente o consumo fácil, Daniela Mercury ataca – como raramente faz – de compositora e assina, em parceria com Manno Góes (do Jammil), sua canção de trabalho para este carnaval: Quero A Felicidade. Uma canção ritmada que preza o otimismo e a esperança. Após o cinema nacional, em 2006, a baiana elétrica vai vangloriar as culturas populares do Brasil neste carnaval. A homenagem será dividida por regiões. Daniela vai cantar forró, música eletrônica, e até canções ligadas ao folclore brasileiro para um baile infantil, vestida de “Nega Maluca”.
O inquieto Carlinhos Brown não fica por menos. O multiartista baiano apresenta o Baile do Bloco Parado e o Pipocão. Com o intuito de atrair o folião “família”, ele promete fazer do Museu du Ritmo (antigo Mercado do Ouro), no Comércio, um novo circuito do carnaval. De sexta a terça se apresentarão por lá, artistas como Margareth Menezes, Babado Novo, Timbalada, Zélia Duncan, Daniela Mercury, Chico César, dentre outros. Na segunda-feira de carnaval, Brown comanda seu trio independente, onde os foliões poderão usar tiaras em forma de pipoca. Mais uma alfinetada de Brown em seu constante discurso em prol da democratização do carnaval.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

bom e velho frevo baiano

Quem foi o primeiro cantor de trio elétrico? A primeira pessoa a emprestar sua voz aos frevos instrumentais que eram executados nos trios elétricos, na década de 70? O cantor, compositor e instrumentista baiano Moraes Moreira, que completa 60 anos de idade este ano foi o tal. Após sua saída do grupo Novos Baianos, partiu, em 1975, para a carreira solo, dedicando-se, principalmente, ao carnaval da Bahia, cantando e colocando letras nos frevos instrumentais da dupla Dodô & Osmar, como Pombo Correio.
Em meados dos anos 80, já reconhecido e consagrado devido ao sucesso de músicas como Chão da Praça, resolveu afastar-se do carnaval por entender que a festa estava entregando-se demais à sedução comercial e perdendo a essência. Mesmo com a ausência de Moraes, o carnaval continuou. Dodô e Osmar, que há 55 anos inauguraram as tocatas, deram prosseguimento à invenção mirabolante e à adaptação do frevo pernambucano ao carnaval baiano. Aliás, o ano de 1975 foi o momento do retorno deles à festa de Momo, após longa pausa; e, quando conseguiram, enfim, gravar seu primeiro disco. O título Jubileu de Prata remetia aos 25 anos da invenção, de fato, do trio elétrico (um Ford 29, bem diferente do modelo contemporâneo). Após 40 anos de parceria musical, Dodô morreu, em junho de 1978, e deixou a cargo de Osmar levar ainda mais adiante a criação da dupla de baianos.
A partir da década de 80, surge a participação do (há tempos promissor) guitarrista Armandinho. Agora fica “Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar”. Com o passar dos anos, o trio não se fechou às novas tendências musicais e incorporou na sonoridade do conjunto a batida dos blocos afro e afoxés e músicas de outros compositores, como o cearense Fausto Nilo e o baiano Walter Queiroz.
Com a forte consolidação da chamada Axé Music, no início dos anos 90, eles pararam com o lançamento anual de discos. Em 1996, receberam uma justa homenagem de vários artistas, com a gravação de um CD, contendo grandes sucessos da dupla. Participam do projeto Moraes Moreira, Alceu Valença, Elba Ramalho, Daniela Mercury e Asa de Águia, dentre outros. Em 1997, Osmar Macedo vem a falecer. Mesmo sem a força de outrora, sob liderança de Armandinho, a família Macedo ainda mantém acesa, no carnaval da Bahia, a chama da dupla Dodô & Osmar.
P.S.: o frevo faz 100 anos hoje.