sábado, 17 de março de 2007

pimenta, tchê!

Considerada por muitos especialistas como a maior cantora brasileira de todos os tempos, a gaúcha Elis Regina (1945-1982), se estivesse viva, completaria hoje 62 anos de idade.
Suas interpretações, banhadas de vibração e técnica incontestáveis, ajudaram a revelar e amadurecer grandes compositores do nosso cancioneiro, como João Bosco, Ivan Lins, Gilberto Gil (que ela considerava seu compositor predileto), Belchior, Milton Nascimento, e só não lançou Chico Buarque porque resolveu pensar sobre o assunto: Nara Leão (1942-1989) foi mais rápida.
Ganhou o apelido de "pimentinha", devido ao seu comportamento muito agitado, o que contribuía para sua obsessão pela perfeição. Exigia muito de seus músicos e de si mesma, resultando em um verdadeiro brinde ao seu público fiel. De personalidade forte e bem definida, Elis envolveu-se com tudo de forma radical: com a música, com a política, com a vida. Tinha sempre a frase certeira, a mente afiada e propósitos firmes, o que a colocava no limiar da questão: uns a amavam, outros a odiavam.
Tornou-se conhecida nacionalmente em 1965, ao sagrar-se vencedora do I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, defendendo a música Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes (1913-1980). Em seguida gravou Dois na Bossa ao lado de Jair Rodrigues, com tal êxito que nos anos seguintes foram lançados os volumes 2 e 3. Foi também ao lado de Jair que apresentou um dos programas musicais mais importantes da música brasileira, O Fino da Bossa, estreado em 1965 na TV Record.
Interrompeu uma carreira brilhante, que estava no auge, quando foi encontrada morta no quarto do seu apartamento em São Paulo, vítima de overdose de drogas, no dia 19 de janeiro de 1982. Elis Regina Carvalho da Costa gravou 27 discos, 14 compactos simples e 6 duplos, deixando, além de um legado imensurável para a música brasileira, três filhos: o produtor musical João Marcelo Bôscoli e os cantores Pedro Mariano e Maria Rita.

quinta-feira, 8 de março de 2007

público x privado: há limites?

Ontem, por volta das 21h, saí do Centro de Convenções, onde assisti à aula inaugural da FIB (aula magna). Saí contente, apesar de ter que caminhar até a entrada (ou saída, depende do ponto de vista!) do bairro da Boca do Rio para pegar o buzú, pois o tema - Universidade Nova - foi muito bem ministrado pelo seu idealizador, o reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Naomar de Almeida.
Infelizmente, a discussão apresentada no título nada tem a ver com a proposta de reestruturação das universidades brasileiras, que suplica por um necessário debate, mas inicia-se justamente no momento em que entrei no ônibus. Ao registrar minha passagem e empurrar o torniquete, estranhei a ocupação regular dos assentos, exceto um par do lado direito próximo à porta de saída. Resolvi (como quase nunca faço) duvidar daquele ditado, "quando a esmola é grande, até o santo desconfia", e caminhei até o banco, crente que estava "abafando". Mais dois passos e vi a cena horripilante, mas não muito incomum aos passageiros de transportes coletivos: um vômito já ressecado, que deixou resquícios no assento e um "sopão" no chão.
Assumo que é uma descrição bem asquerosa, entretanto necessária para compreendermos a situação. Pois bem. Como o diabo corre da cruz, fugi daquele troço fedorento! Dei meia-volta e fiquei de pé mesmo, próximo ao cobrador, observando a cena, as pessoas e imaginando o que escrevo agora.
Problemas a circundar nossa sociedade são inúmeros, um deles, que parece imperceptível à maioria dos indivíduos, é a confusão entre o que é público e o que é privado. Vale frisar que é mais um problema ligado ao originador de todos os outros: falta de educação. Na minha explicação, baseada somente no meu "achismo", mas que suponho haver sentido lógico, serei bem objetivo. Há que se entender algo básico - e talvez por isso passe sem o devido crédito - que o que é de uso público não quer dizer que não tenha dono, mas que todos somos os supostos "donos".
Portanto ao usarmos algo público, devemos sempre pensar coletivamente, no outro que vem depois. Diferente de algo privado. Aí já é problema estritamente seu. Se em uma viagem, você sente um mal-estar e quer vomitar, vomite no interior do seu carro! Afinal de contas, ele é seu, particularmente seu, só seu. Faça o que quiser e arque com as consequências. Porém, a maioria não absorveu essa lógica ainda (talvez, nunca!). Muito pelo contrário! No ônibus, que apesar de pertencer a empresas privadas é de uso público, o enjoadinho de plantão não faz cerimônia: arreganha a boca e despeja sua porcariada dentro do veículo, que várias pessoas distintas usam ao mesmo tempo. Se a ânsia de vômito viesse quando essa mesma pessoa estivesse dentro do seu carro particular, sabe o que ela faria? Abriria a porta e expeliria tudo na rua.... que é pública e não tem dono.

quarta-feira, 7 de março de 2007

implantação da universidade nova carece de debate

O ensino superior no Brasil é alvo de mais uma discussão. A proposta do reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Naomar de Almeida Filho, denominada Universidade Nova, vai além daquela já apresentada, desde 2003, pelo Ministério da Educação (MEC), cuja ênfase é mais política que acadêmica. O objetivo é modificar a base, visando a uma transformação radical na estrutura da arquitetura acadêmica da educação superior brasileira.
Durante a aula inaugural do Centro Universitário da Bahia (FIB), no último dia 7, às 19h30, no Centro de Convenções da Bahia, Naomar exibiu os limiares de sua moção, que possui questões inovadoras, mas deixa alguns questionamentos em aberto.
A estrutura curricular confusa, com um sistema de títulos desarticulado e numerosas qualificações são aspectos bastante peculiares do modelo curricular atual. A Universadade Nova baliza e minimiza tais problemas, porém não os resolve. No modelo presente nas universidades, o estudante pode obter uma formação superior com licenciatura ou bacharelado. Isso sem contar as habilitações, ênfases, e o mais recente diploma de tecnólogo. Há também as denominações profissionais diretas (médico e dentista, por exemplo), especialização, mestrado, MBA, e doutorado. Essa enxurrada de intitulações é maléfica para o profissional. “Há risco de isolamento intelectual e até recusa em alguns países desenvolvidos, devido à incompatibilidade dos títulos”, pondera Naomar.
A Universidade Nova tem a proposta de dar outra cara à estrutura curricular dos cursos profissionais, baseada nos dois grandes modelos mundiais: o norte-americano e o europeu. Bacharelado Interdisciplinar (BI) é a denominação que substituiria a graduação atual. O BI teria a duração de 3 anos e seria dividido por 4 grandes áreas do conhecimento: humanidades, artes, tecnologias e ciências, esta, sub-dividida em mais 5 grupos (da matéria, da vida, da saúde, da sociedade e sociais aplicadas). Para dificultar ainda mais, o BI poderá ter 3 formações (geral, diferencial e profissional) e um curso tronco, cada um com suas inúmeras especificidades e características.
Outro agravante: a proposta inova, mas não simplifica a organização curricular. O projeto idealizado pelo reitor da Ufba busca solucionar evidentes problemas no ensino superior. Precocidade na escolha da profissão é um item nulo com a implantação do BI, já que o aluno tem 3 anos para decidir-se, estando já no âmbito acadêmico. O BI também extingue a formação tecnológica-profissional e inculta, favorecendo o fomento à cultura, devido à amplitude das disciplinas oferecidas a todos os alunos. Outra questão fundamental é a flexibilização curricular. “O estudante pode construir seu currículo e evitar decepções. Isso visa a diminuir a taxa de evasão escolar que é de 40% nas universidades públicas”, diz Naomar. O reitor da Ufba considera “primitivo” o atual processo seletivo e fala em ajustes. É difícil discordar dessa rudimentariedade, entretanto não é apresentado, concretamente, o substituto do traumático vestibular, e nem como seriam as seleções internas. Outra lacuna é a exclusão das faculdades particulares (grande maioria em Salvador, diga-se de passagem) do projeto, que só prevê as instituições públicas. Não há um motivo explícito para isso. Em relação ao sucesso da aplicabilidade do projeto, há uma questão curiosa: a Universidade Nova é uma homenagem ao educador Anísio Teixeira. Na sua explanção, Naomar também cita o ex-reitor da Ufba, Edgar Santos. Juntos, formam um trio de profissionais de prestígio e todos possuem formação baseada naquele modelo da universidade de Coimbra...! Diz-se que a esperança é um risco que se precisa correr, portanto é esperar para ver.