quarta-feira, 10 de outubro de 2007

a magia do telejornalismo

É difícil um estudante de jornalismo chegar ao momento de enfrentar o curso de telejornalismo e não ter uma sensação especial. Aparecer no vídeo, entrar na casa das pessoas, e saber que está sendo visto e ouvido por inúmeros telespectadores, é algo contagiante. Guilherme Jorge de Rezende, em Telejornalismo no Brasil, diz: “A linguagem jornalística na televisão tem um traço específico que a distingue: a imagem. A força da mensagem icônica é tão grande que, para muitas pessoas, o que a tela mostra é a realidade. Por isso, a TV ocupa um status tão elevado, o que faz com que os telespectadores, especialmente os pouco dotados de senso crítico, lhe dêem crédito total, considerando-a incapaz de mentir para milhões de pessoas”. Isso sem esquecer o perigoso glamour (?!) proporcionado pela fama, e a patente confusão entre ser jornalista e ser artista. O incalculável alcance da televisão na sociedade brasileira e o fascínio do povo por este veículo (o que lhe confere alta carga de credibilidade e responsabilidade), são fatores relevantes para o encanto do repórter (ou, pelo menos, aspirante a tal) pelo estudo do jornalismo na TV.
O primeiro dia foi de muita expectativa e ansiedade: nervosismo presente, mas contido. Se as referências da professora eram as melhores possíveis, por que tanto temor? Passando nos corredores do Centro Universitário da Bahia (FIB), ainda procurando a sala, estiquei meu pescoço (amparado pela minha boa estatura) e vi uma frase escrita em uma lousa: “tudo é difícil até se tornar fácil”. Como diz o comentarista esportivo Rui Botelho: “caiu como uma luva”. Era o que eu precisava para iniciar o curso de cabeça em prumo. Até porque, sou um preguiçoso, porém não burro! E me baseei na minha facilidade de aprendizagem para dissolver essa pré-imaginação de dificuldade, em leveza e tranquilidade.
Começando do começo, vamos falar da pauta. Sinceramente, nunca gostei de elaborar pauta, apesar de considerá-la imprescindível para uma boa matéria. Ainda mais em telejornalismo, pois desde a pauta já se deve haver uma preocupação com as imagens. Segundo Olga Curado, em A Notícia na TV, as pautas podem ser factuais: “É a cobertura. A equipe de jornalismo acompanha e registra um fato que esteja transcorrendo... oferece em poucas palavras sugestões para enfoques de cobertura”; ou produzidas: “Não é o fato já escancarado. Pauta produzida é uma pauta de investigação... O essencial que não se pode perder de vista é que o ponto de partida de uma pauta será sempre a notícia”. No curso, não seria possível elaborarmos algo factual, então foram pautas produzidas, tanto para o telejornal piloto, quanto para o “valendo”. Apesar de ter a teoria à disposição, não tive muita facilidade em levantar as pautas, devido à falta de prazer nessa atividade mesmo. Porém, na reunião de pauta, realizada na sala, trouxe minhas sugestões e uma foi aprovada e executada.
Depois de ter a pauta pronta e aprovada, chegou a hora de ir a campo. Contatar as fontes, marcar o encontro, e concretizar a entrevista. Eis outro ponto muito interessante no telejornalismo, especificamente. Até então só tinha feito matérias para o formato de impresso. Para essas matérias, o momento da entrevista com a fonte nunca foi encarado como “entrevista” mesmo. A gente ia conversando, e no decorrer da conversa, eu chegava aos pontos que me levaram até aquela determinada pessoa. Mas no telejornalismo, a entrevista é um momento chave da matéria, principalmente na captação de uma sonora. Então, ela requer alguns cuidados com maior incidência do que em outros veículos. Um bom conhecimento sobre o assunto e sobre o entrevistado e atenção para informações complementares que só vão surgir no ato da entrevista. Como dizem Luciana Bistane e Luciane Bacellar no livro Jornalismo de TV: “... o ideal é estar preparado, o que não significa ler tudo a respeito do assunto, e elaborar uma lista de perguntas, como costumam fazer os repórteres em início de carreira – que decoram o que vão indagar. Por estarem presos ao que prepararam, muitos repórteres não escutam coisas mais importantes que o entrevistado pode falar”.
A ansiedade grande de colocar em prática (fazer a matéria) os ensinamentos aprendidos em sala de aula já dava os primeiros sinais, quando percebi, de fato, que o jornalismo em TV possui inúmeras peculiaridades. Mas a forma detalhada, e não menos objetiva (o que vem dando dinamismo ao curso), com que os termos foram apresentados em sala de aula, ajudaram bastante a superar mais essa possível barreira. São muitas etapas também para a conclusão da reportagem em TV. Depois que fizemos (eu e Kikito) a sonora com a fonte principal, não anotei a fita em que estava (por imaturidade), o que já gerou um trabalho a mais lá na frente. Em seguida, mais duas sonoras de personagens (aplicando bem a técnica: lado esquerdo do cinegrafista, registrando na fita o nome da fonte, e apoiando o braço com o outro) e o grande momento: minha passagem! O momento de olhar para a câmera, decorar o texto e gravar. Pela expectativa gerada, achei que seria bem pior, mas na segunda tomada, Kikito e eu achávamos que já estava bom. Fizemos mais uma por precaução e pronto. Já foi. Um alívio!
Pior que nem tanto alívio assim: ainda tinham a decupagem, gravação do texto em off, e a edição da matéria. O mais gostoso desse curso de telejornalismo, da forma como está sendo lecionado, é o seu direcionamento prático, sempre baseado em conhecimentos teóricos. Torna até os processos burocráticos, por assim dizer, prazerosos. Só que cometi um equívoco, por ansiedade e imaturidade também: gravei o off antes de decupar as imagens, baseando-me em minha memória. Probabilidade remota de uma atividade dessas obter sucesso. Quase dito e feito. Tenho boa memória e saiu quase tudo como imaginei. O grande problema foi a primária falta de estrutura do laboratório de Rádio, Televisão e Cinema (RTVC), da FIB, que não possui uma bateria para a iluminação do cinegrafista. Como diria Boris Casoy: “isso é uma vergonha!” O trabalho de decupagem das imagens, orientado por Selma Barbosa, fiz sozinho. Um porre! Mas a edição, fiz com Samuel Santos. Diversão!
Acho válida e frutífera a forma como vem sendo conduzido o curso até aqui: o casamento ideal e em medidas interessantes entre teoria e prática. E eu não poderia deixar de citar aqui nesse relatório o momento mais surpreendente e inusitado ocorrido comigo no proveitoso curso até agora (diga-se de passagem, até agora!): o exercício-teste para apresentador do telejornal. Não acho que tenho boa fotografia. Por isso, baseado no capítulo A Pronúncia, do livro Manual de Telejornalismo, de Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima, e nas aulas, e sempre atento para os momentos em que a própria professora Leila Nogueira lia algum texto feito por um colega (porque não sou bobo, nem nada!), busquei aprimorar a voz (pronúncia, dicção, entonação), já elogiada no curso de radiojornalismo. Barbeiro e Lima dizem: “A televisão é imagem, mas a fala também é essencial. Não se trata de exigir do jornalista um belo timbre de voz, mas clareza na pronúncia das palavras, respeito ao ritmo, velocidade e entonação. A leitura malfeita, com erro de pronúncia, e o vício de ‘comer letras’, principalmente o S final das palavras, podem fazer o telespectador perder o interesse pela notícia”. Os longos aplausos recebidos após a minha apresentação me deixaram lisonjeado e otimista para investir cada vez mais nesse campo que requer altas dosagens de humildade e maturidade de tão encantador: o telejornalismo.


P.S.: Esse texto foi um relatório entregue à professora Leila Nogueira, durante o curso de telejornalismo na FIB.