segunda-feira, 25 de setembro de 2006

a canhota mágica

Nos arrabaldes de Buenos Aires, em 30 de outubro de 1960, nasceu Diego Armando Maradona. O fato de ser de origem pobre ajudou-lhe a valorizar mais as conquistas e enfrentar com franqueza os percalços de uma vida conturbada.
Ainda com três anos de idade, ganha um presente que se torna inerente à sua trajetória profissional: uma bola, com a qual ele dormira abraçado e iniciara uma íntima relação.Com 10 anos de idade, quando já abrilhantava os péssimos campos de várzea da região, foi convidado a participar do Cebollitas, formação infantil do time Argentino Juniors.
Exatamente há 10 dias para completar 16 anos, “el pibe de oro”, como era conhecido, estreou no Argentino Juniors, por onde permaneceu durante cinco temporadas.
Mesmo contra uma ovação pública, não foi convocado para a Copa do Mundo de 1978 (quando ainda tinha 17 anos) realizada na própria Argentina. Seus dribles desconcertantes e precisos, entretanto, ajudaram-lhe a conquistar, pelos juvenis da seleção argentina, o título mundial de 1979, disputado no Japão.
É contratado pelo seu time de coração: o Boca Juniors. Maradona, então com 21 anos de idade, sagra-se campeão nacional. Sua identificação com a equipe mais popular do país foi tamanha que ele se tornou uma espécie de símbolo do clube. A essa altura Diego Armando já era maior astro do futebol mundial.
O Barcelona, tradicional time espanhol, manifesta interesse na aquisição do craque argentino. Devido a dificuldades financeiras, o Boca cede às investidas do clube catalão e vende seu diamante, que promete um dia voltar.
Assina o novo contrato em junho de 1982. Contudo, antes da sua estreia no Barcelona, veio a Copa do Mundo deste ano, ocorrida na Espanha. Não conseguiu produzir, a partir das oitavas-de-final, o que se esperava dele. Uma forte e violenta marcação do escrete italiano inibiu Maradona de fulgurar na partida. Contra a Seleção Canarinho, idem. Após uma entrada impetuosa no defensor brasileiro Batista, foi expulso de campo na derrota e desclassificação argentina. Após a Copa e há menos de dois meses para completar 22 anos de idade, faz sua estreia no clube europeu.
O argentino tinha o objetivo de fazer jus ao investimento do time da Catalunha, mas no início da temporada uma hepatite o afastou dos gramados. Apesar de ter brindado o mundo com jogadas e gols espetaculares vestindo a camisa do Barcelona, o craque diz se sentir só, perseguido e até discriminado em terras espanholas. Os 58 jogos e 38 gols marcados podiam ter se ampliado, caso Maradona não fosse obrigado a ficar ausente da profissão por longos 106 dias. Em setembro de 1983, após uma veemente entrada que sofreu, teve um dos tornozelos fraturado. Despediu-se do Barcelona, sem títulos, em maio de 1984.
A carência de títulos seria saciada a partir da sua chegada ao Napoli, da Itália, em julho de 1984, por onde ficou durante sete anos. Diferente de Barcelona, foi agraciado e adotado por toda a cidade italiana de Nápoles desde o início. Em troca, correspondeu mudando e marcando a história do time e da cidade napolitanos para sempre. Foi como jogador do Napoli que conquistou a Copa do Mundo de 1986 pela sua Argentina, realizada no México.
No auge da carreira, aos 25 anos de idade, comandou a seleção argentina rumo ao título. Antes do torneio ele disse que seria a sensação da Copa. A profecia se concretizou: ele realmente foi soberbo!Apesar de acanhado na estatura, Diego Maradona era incomensurável na arte da bola. Protagonizou partidas inesquecíveis na Copa de 86, porém nenhuma como aquela contra a Inglaterra. “La mano de Dios”, essa é a definição do craque para o 1º gol contra os ingleses. Minutos após tal façanha, Dieguito provou ser, de fato, excepcional ao marcar o gol mais bonito da história dos mundiais.
O craque, no sentido mais literal da palavra, recebeu a bola ainda em seu campo, próximo à linha que divide o gramado e cercado por três ingleses. Vale interromper para lembrar o patriotismo argentino (característica, aliás, típica dos latinos, exceto dos brasileiros), já que ele conduzia seu país, ainda ferido pela derrota na guerra das Malvinas. Com um giro sobre o próprio corpo, livra-se dos primeiros adversários, em um ato que, regido por ele, parece bem fácil. Sempre sob o comando exclusivo do prestigiado pé esquerdo, com leves toques na redonda, cabeça erguida, corpo em prumo e dribles objetivos, ele consegue deixar mais três oponentes ao léu. Após o mais absoluto desespero contido na saída do arqueiro, o gênio finta também este para, caindo, empurrar a bola às redes vazias.
Após o título e consagração na Copa do México, regressa à Itália e ratifica tal ato. Pelo time napolitano é sublime e conquista os inéditos nacionais de 1987 e 1990 e também o único torneio internacional do clube: a UEFA de 1989. Maradona atesta a condição de melhor do planeta e parte para sua 3ª Copa do Mundo, em 1990.
Ironia ou não do acaso, realizada na Itália. Em mais uma peça pregada pelo destino, os argentinos enfrentam os próprios italianos em jogo eliminatório. Sem o apoio dos torcedores napolitanos, mesmo após pedido de Diego, a Argentina despacha a Itália em cobranças de pênaltis. Em nova final entre alemães e argentinos, os germânicos se deram melhor: 1x0.
Devido à falta de diplomacia durante a Copa e algumas atitudes indisciplinares de Dieguito, o clima entre ele e o Napoli muda após o torneio mundial. O casamento está chegando ao fim. O cúmulo ocorre em março de 1991 (ainda com apenas 30 anos), quando Maradona é punido em razão de um exame antidoping com resultado positivo. Ele é suspenso por 15 meses e deixa a Itália. Iniciava-se a decadência do craque.
Já sem a resplandecência de outrora, estreia no Sevilla, da Espanha, às vésperas de rematar 32 anos. Em apenas oito meses de estadia e oito gols assinalados, despede-se do time espanhol. Na data de seu 33º aniversário, após regresso à sua terra-natal, estreia no modesto Newell’s Old Boys. Foi uma passagem relâmpago e sem expressividade, característica destoante do famoso “pibe de oro”. Nenhum gol marcado nos cinco jogos em que atuou. O consumo de drogas, a essa altura, é a maior especialidade dele.
Mesmo com a queda de rendimento considerável na década de 90, o craque não perde a pompa e o amor a sua seleção. Alça voo aos Estados Unidos, em 1994, rumo a participar da sua 4ª e derradeira Copa do Mundo. Breve participação, aliás. Ainda nos jogos classificatórios, ao contrário do que imaginavam os críticos, faz excelente partida e belo gol contra a Grécia, na vitória do selecionado argentino. É sorteado para o exame antidoping. A saída do gramado estampando um sorriso maroto e de mãos dadas com a representante da operação, não ameniza a veracidade do fato. Maradona foi banido da Copa, em virtude da presença de Efedrina (substância excitante absorvida irregularmente) encontrada em suas excreções.
Acima do peso e longe de encontrar o esplêndido futebol dos tempos áureos, cumpre a promessa e retorna ao Boca Juniors. Neste momento ele tem, praticamente, 35 anos de idade.
Há exatos cinco dias para fechar 37, Diego Armando Maradona, lutando contra as drogas, despede-se definitivamente do futebol. Ainda que sensíveis problemas pessoais o afetassem e tivessem abalado sua carreira nesta década, a encerra com honras de rei e ídolo inesquecível da torcida. O último jogo foi uma coroada vitória sobre o rival River Plate, em pleno estádio Monumental de Nuñes.

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