quarta-feira, 27 de setembro de 2006

vamos comer feijão... com arroz

Nem tudo está perdido. Há uma luz no fim do túnel. Veja o motivo. É sabido que o mercado brasileiro ainda ostenta uma carga pesada de desempregados. Nas 6 maiores regiões metropolitanas do país, há mais de 2,4 milhões de seres humanos em busca do almejado emprego e mais de 8 milhões sem laborar, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma situação pouco animadora.
Em contrapartida, desde 2004, mesmo que pelejando, há um processo evidente de recuperação da economia do Brasil. Basta reparar no número de contratações formais e informais, por exemplo, no último verão, nas grandes regiões brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife). Superou o número de demissões em mais de 1 milhão. Aliás, a taxa de desemprego vem cumprindo sua tendência: recuou. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, passou de 10,7% nos últimos dois meses, para 10,6% em agosto. Em São Paulo, maior metrópole da nação, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada nesta terça-feira (26) pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa caiu para 15,9%. O menor índice dos últimos 9 anos.
Esse texto não tem a finalidade de enaltecer a hipocrisia, mas a situação de emprego e renda no país já mergulhou em águas mais turvas. Se grandes corporações já não consideram mais inglês fluente, MBA e cursos de especialização como adjetivos interessantes, mas como exigências, há discrepâncias no mercado empregatício. Empresas como as redes de supermercados GBarbosa e Hiperideal (genuinamente baiana e pertencente aos donos do extinto Peti Preço), que empregam, de fato, centenas de indivíduos, adotam uma tática peculiar. Como pré-requisito ao candidato não exigem a “idade padrão” (18 a 25 anos), nem a tão crucial experiência profissional. A lógica adotada pelos empresários consiste na eliminação de ranços maléficos adquiridos em outras instituições. Eles oferecem treinamento completo e adequam o funcionário aos seus moldes. Daí vão dizer: “é preciso dominar outro idioma para trabalhar como caixa ou repositor em supermercados?”. Claro que não.
Porém, a briga constante (e saudável ao consumidor) entre lojas de varejo em Salvador, como Insinuante, Ricardo Eletro e, mais recentemente devido à inauguração de grandes magazines, a Romelsa, comprova uma hipótese: o grande veio do mercado consumidor, que faz rodar a economia do país, é o proletário brasileiro, é o assalariado de baixa renda. Quanto mais e mais estiveram trabalhando, melhor. A economia agradece.
A recuperação econômica do Brasil deve muito ao mercado interno, em função do aumento do consumo das famílias. Empregos estão sendo engendrados, também, além do comércio (primeiro lugar, com 19% do total), em indústrias de alimentação, bancos, e empresas de call center. Estas, em Salvador, quebram recordes. Das mais de 50 mil vagas originadas no país, cerca da metade pertence à capital baiana, segundo dados da Associação Brasileira de Telesserviços (ABT). Tudo é call center. Às vezes, inegavelmente, incomoda, é chato. Porém, contribui para o desenvolvimento da economia brasileira. São milhares de pessoas ingressas no mercado, principalmente estudantes de nível médio e universitário. Diga-se, de passagem, as duas maiores empresas de call center do país possuem unidades em Salvador. Diluindo em números, a Contax gera, aproximadamente, 6 mil empregos na capital baiana e a Atento Brasil, mais de 5 mil. Em todo o país, o setor emprega 630 mil pessoas, com perspectivas de criação de mais 35 mil postos de trabalho, segundo a ABT.
Há, sim, que se comemorar. Para o futuro, segundo especialistas, está projetado um cenário de crescimento médio anual de 3,4% até 2012. A redução dos trabalhos precários (bicos) e o considerável acréscimo do salário mínimo, influenciaram e impulsionaram a economia, mesmo representando uma coronhada na cabeça das micro e grandes empresas. Mas quem consome e paga juros e mais juros é o povão. É na massa consumidora que está o filão. Certo que 350 reais não é salário digno, honroso. A situação ainda está manca, mas já capengou mais. Não dá pra cumprir a constituição (bendita constituição!): todo cidadão tem direito a alimentação, saúde, lazer e blá, blá, blá...
O título deste texto remete a uma longínqua canção do Caetano Veloso, mas para finalizar, recorre-se aos Titãs, que já perguntaram: “você tem fome de quê?”. E eles mesmos responderam: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão, balé”. Lentamente, estão sendo dados alguns passinhos. Na mesa já dá para colocar o principal, e com complemento.

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