quinta-feira, 25 de junho de 2009

jornalismo esportivo: razão e emoção

Pivetinho, lá pelos cinco, seis anos de vida, subia nos ombros de Lelo rumo aos duelos do Vitória. Mesmo sem entender nada de bola, toda quarta e domingo chegava no maior queixo pedindo para ver o Leão da Barra. A figura em questão é meu pai, responsável por inspirar em mim essa paixão: rugir pelo Leão para sempre. O coroa ficava feliz por ver o único filho, na época, com tanto chamego ao clube de tanto apreço aos seus olhos: “Esse é meu Leão. Vamos pra Toca?”
O tempo passava e Angelon, meu apelido de infância, mais e mais ligado no movimento Barradão. Ainda criança, comecei a perceber como era duro ser Vitória. Todo dia, um bate-boca com um amigo tricolor, na esportiva. “Você não tem título nacional”, escutava, doído.
Eles não sabiam, mas só fortaleciam minha paixão por esse velhinho vencedor de 110 anos. Na adolescência, a situação era semelhante. De diferente, só meu conhecimento sobre a redonda, um pouquinho mais apurado.
Nessa fase, tentei testes na Toca. Queria navegar mais na onda de me entregar pelas cores vermelha e preta. Passei em dez peneiras e cheguei a bater bola com os garotos nascidos em 1988. Duas semanas para eternizar. A doce imaginação me permitia ser um Petkovic da vida. Não rolou pra mim como jogador. Pouco mais tarde veio a inquietação do vestibular.
Resolvi ser jornalista esportivo, ou melhor, de futebol. E hoje, cá estou num jornal, logo na editoria dos meus sonhos. Escrevendo coluna e tudo. Que moral para um cara de apenas 21 anos!
Pensei: que tal ser sincero na minha estreia no "Pratas da Casa"? Admitindo para você, caro leitor, que meu coração pulsa por sete letrinhas: V-I-T-O-R-I-A. Ainda sobra um acentozinho agudo ali em cima do "o".
Se acredito em sinceridade, assim posso me sentir melhor. Isso aqui é esporte, cumpade! Quem escreve nessas páginas, é movido por uma paixão que antecede a rotina profissional.
Quando era apenas leitor, queria saber quem era a “pessoa” jornalista que escrevia pra mim. Agora, presenteio aqueles que dividem comigo essa curiosidade. Na arquibancada, nas folgas do serviço, amo o Vitória. Na hora de sentar para escrever, entrego-me. Na redação do Correio*, a missão é fazer o melhor para Vitória, Bahia, Galícia e todos os outros. Noticiar com integridade é meu golaço profissional diário.
Um dia quero entender os jornalistas que escondem sua paixão. Por quê? Será mais fácil seguir essa trilha? Pronto, já sabem muito de Angelo Paz. Vitória no sangue e jornalista esportivo na vida. Sabe, com muito orgulho, com muito amor: à bola e ao texto”.


Muito bem escrito, o texto acima é de autoria do jovem e competente jornalista Ângelo Paz. Foi publicado segunda-feira (22), na coluna “Pratas da Casa”, do jornal Correio*. Nestas linhas, Paz, apesar de ter a imparcialidade como mote do seu trabalho, assume sua paixão: é torcedor do Vitória.
Há anos se perpetua aqui em nosso estado, principalmente por uma determinada categoria de jornalistas esportivos, uma ideia sem nexo de que o profissional de jornalismo esportivo não pode torcer para time nenhum, ou, pelo menos, não deve revelar sua paixão. Esse comportamento tão propagado e predominante na Bahia, beira mais incompetência do que ética profissional.
A manifestação de Paz chega em um momento oportuno e, certamente, é o pontapé inicial de uma mudança tão almejada nos bastidores do jornalismo. É um chute certeiro na hipocrisia que ainda reina em uma classe profissional, intelectualmente, muito heterogênea.

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