
Minha esposa está, sim, desmantelada. Desde ontem sequer se alimentou. Simbão era seu porto seguro. Era junto dele, baseada na fidelidade sem igual dele, que ela ficava realmente feliz, com o semblante puro de alegria. Quem não tem, e nem teve um animal, não faz ideia do sentimento que corrói o coração e alma dela. Já quem ama e é amado por um bicho imagina bem a dimensão dessa dor cruel.
Diferente de uma pessoa que fala com palavras, o cão não as emite em bom português, mas fala, sim! Seja com gestos, atitudes e até com olhar. E a forma mais sensível é essa. Só quem ama animais entende a comunicação impressa no olhar de um animal.

É muito duro deixar o seu bichinho em uma clínica, com esperança de que tudo dê certo, e três dias depois ir buscá-lo já falecido. O pranto tão verdadeiro e sincero de minha esposa me dói também, e minhas lágrimas também foram incontroláveis ao ver o corpo de Simbão mole, ainda aquecido, mas sem reação. Porque a sensação que se tem ali, diante daquele momento, é de impotência e fragilidade tanto sua quanto do cão. Sua, por não poder fazer mais absolutamente nada para reverter aquele quadro. Principalmente dele, porque apesar da consciência de termos adotado o mais coerente procedimento diante da situação, ele não opina e não decide nada, quando a vítima em jogo é ele mesmo. Os responsáveis e equipe médica chegam a conclusões e definições sobre "alguém" que vai aceitar: quer queira, quer não. E ele foi. Ele não tinha opção. E ele é pequenininho, e ele fala com o olhar...
Só quem ama e respeita animais sabe o sentimento dessas palavras. Ou melhor, sabe o que eu quis expressar com elas. Eu e minha esposa amamos e respeitamos os animais. Amamos e respeitamos Simbão hoje e para todo o sempre. Simbão agora está dormindo na sua caminha... eternamente em paz!
P.S.: Quanto aos humanos, nem tanto, mas quanto aos animais, redescobri: a morte ainda abala!
P.S.2: O título desse texto é o mesmo de uma bela canção de Roberto Mendes e Jorge Portugal, cuja letra segue abaixo:
Histórias que não contam mais
Quando o barco perde a praia
Quando tudo diz adeus
O céu desmaia, a luz do dia não raia
Pois se apaga a luz do céu
A dor se espraia feito pé de samambaia
E antes que a noite caia
Apaga a lua
E a saudade então flutua
Como bólido luzente
Dentro dela a gente vai
Histórias que não voltam mais
Quando os lenços cortam os laços
Num definitivo adeus
Nenhum abraço, nenhum sol nos olhos baços
Nem um traço, nem um véu
Apenas o silêncio e o som de Deus
Apenas o silêncio...
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