quarta-feira, 13 de maio de 2009

vila do adeus

Simbão morreu ontem. Ele teve uma parada cardíaca após cirurgia para a retirada de um tumor que tomava conta de seu fígado. Aliás, seu minúsculo fígado. Pois Simbão é a forma que eu chamava o pequeno poodle toy de minha esposa (e há cerca de 6 anos, meu também!). Pequeno no tamanho, porque na gana e vontade de viver, de continuar vivendo, ele, de fato, fazia jus ao apelido que lhe dei. Nervoso como a "mãe", e no alto dos seus 12 anos, suportar esse baque foi pedir muito ao "coração valente". Foi, sobretudo, sua ânsia por estar vivo, que não denunciou a existência do câncer em seu fígado. "Ele é muito forte. Outro cão já tinha se desmantelado há tempos", disse o médico veterinário Augusto, sobre a resistência de Simbão.
Minha esposa está, sim, desmantelada. Desde ontem sequer se alimentou. Simbão era seu porto seguro. Era junto dele, baseada na fidelidade sem igual dele, que ela ficava realmente feliz, com o semblante puro de alegria. Quem não tem, e nem teve um animal, não faz ideia do sentimento que corrói o coração e alma dela. Já quem ama e é amado por um bicho imagina bem a dimensão dessa dor cruel.
Diferente de uma pessoa que fala com palavras, o cão não as emite em bom português, mas fala, sim! Seja com gestos, atitudes e até com olhar. E a forma mais sensível é essa. Só quem ama animais entende a comunicação impressa no olhar de um animal.
É muito duro deixar o seu bichinho em uma clínica, com esperança de que tudo dê certo, e três dias depois ir buscá-lo já falecido. O pranto tão verdadeiro e sincero de minha esposa me dói também, e minhas lágrimas também foram incontroláveis ao ver o corpo de Simbão mole, ainda aquecido, mas sem reação. Porque a sensação que se tem ali, diante daquele momento, é de impotência e fragilidade tanto sua quanto do cão. Sua, por não poder fazer mais absolutamente nada para reverter aquele quadro. Principalmente dele, porque apesar da consciência de termos adotado o mais coerente procedimento diante da situação, ele não opina e não decide nada, quando a vítima em jogo é ele mesmo. Os responsáveis e equipe médica chegam a conclusões e definições sobre "alguém" que vai aceitar: quer queira, quer não. E ele foi. Ele não tinha opção. E ele é pequenininho, e ele fala com o olhar...
Só quem ama e respeita animais sabe o sentimento dessas palavras. Ou melhor, sabe o que eu quis expressar com elas. Eu e minha esposa amamos e respeitamos os animais. Amamos e respeitamos Simbão hoje e para todo o sempre. Simbão agora está dormindo na sua caminha... eternamente em paz!


P.S.: Quanto aos humanos, nem tanto, mas quanto aos animais, redescobri: a morte ainda abala!

P.S.2: O título desse texto é o mesmo de uma bela canção de Roberto Mendes e Jorge Portugal, cuja letra segue abaixo:

Histórias que não contam mais
Quando o barco perde a praia
Quando tudo diz adeus
O céu desmaia, a luz do dia não raia
Pois se apaga a luz do céu
A dor se espraia feito pé de samambaia
E antes que a noite caia
Apaga a lua
E a saudade então flutua
Como bólido luzente
Dentro dela a gente vai

Histórias que não voltam mais
Quando os lenços cortam os laços
Num definitivo adeus
Nenhum abraço, nenhum sol nos olhos baços
Nem um traço, nem um véu
Apenas o silêncio e o som de Deus
Apenas o silêncio...

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