domingo, 24 de maio de 2009

pau-de-arara é a vovozinha (parte 1)

O sotaque oriundo do município de Oliveira dos Brejinhos, no interior da Bahia, ainda tem muita força no falar de “seu Renato”. Apesar de já ter aportado na capital do estado há mais de 50, dos seus 72 anos de vida, ele não conseguiu se desprender do modo peculiar de se expressar dos brejinhenses. “Traga batatinha”, pede à nora Gracielle para incluir nas compras semanais com aquele “t” pronunciado firme.
Homem de muitas manias e hábitos imutáveis, esse grude com o sotaque é só mais um exemplo de seu ranço com o passado. “No meu tempo, eu era ‘arranca-trilho’. Fiz concurso para o Banco do Brasil e passei em 6º lugar”, conta, orgulhoso, Renato de Almeida Vasconcelos, pai de oito filhos (sete homens e uma mulher) e avô de mais 10, entre adolescentes e crianças.
Seu andar lateralmente torto e suavemente corcunda começa a dar indícios da idade cronológica. Mas os números não condizem com a disposição diária desse senhor aplicado. A questão é que como ele já se aposentou há anos e não é afeito a muitos entretenimentos, essa aplicação toda é para se intrometer, opinar e, majoritariamente, resolver os problemas dos rebentos de 1ª e 2ª gerações. “Fica tudo em minhas costas. Quero ver quando é que algum desses filhos vai andar com as próprias pernas”, solta, entre lamentos e gargalhadas. Aliás, esse paradoxo é outra marca registrada de “seu Renato”, como é conhecido. Nome sujo há tempos e dívidas com terceiros vão de encontro a uma eterna calma e serenidade. “Dá pra contar nos dedos as vezes em que se viu ele nervoso”, afirma o primogênito que herdou até o nome do pai.
Não tem apreço a quase nada de material e pouquíssima vaidade. Roupas bem desgastadas e sem combinar direito as cores, escassez de xampus e perfumes, não vai há cinema, não liga pra música e jamais assistiu a uma peça teatral (eu disse: jamais!). Só uma paixão insana e verdadeira: carros. Isso mesmo! “Seu Renato” é alucinado por carro a ponto de certo dia perguntar ao filho caçula: “Ô Rogério, você já lavou o cachorro? E já deu banho no carro?”, questionou assim mesmo, na maior naturalidade do mundo. E quando o assunto é automóvel, as questões financeiras se reduzem quase a pó. Um ajuste aqui e outro acolá que no final das contas resultem em 800 reais, por exemplo, é como se se diluísse a 8 reais. Ele enfatiza o serviço feito, o resultado final e a forma de pagamento, mas o valor mesmo, não tem importância!
Para a maioria dos rebentos, o velho tem ainda mais peculiaridades. É considerado um mestre das gafes e foras, e fofoqueiro de plantão. “Na churrascaria, quando ele, já entupido de vinho, começa a falar cuspindo grãos de arroz nas pessoas, é sintoma de que vem besteira por aí”, revela, aos risos, seu 4º filho, Ronald. E a maioria das bobagens diz respeito às namoradas dos filhos e assuntos pertinentes: sexo, virgindade, casamento e outras mumunhas mais.


P.S.: esse texto é apenas a primeira parte de um breve perfil do meu pai, que é uma "figura"!

3 comentários:

Omar Gusmão disse...

Muito bom esse "Seu Renato" que figura...Mas acho que os filhos tem a quem puxar...rsrss(Gusmão)

Daniel disse...

Posta logo a parte 2, ligeirooooooo
kkkkkkkkkkkkk...

Daniel disse...

"Revela, aos risos, seu 4º filho," Ronald
Obs:Ronald ñ é o terceiro ñ???
Acho que o quarto é Marcelão