domingo, 29 de março de 2009

respeitem meus cabelos brancos

Salvador, parabéns! Afinal, com todo respeito, hoje a senhora completa 460 anos! Mas a fama de “boa-terra”, aquela cidade inspiradora de canções, parece estar cada vez mais distante da atual característica da capital baiana. Reverenciada em versos ao longo dos tempos, Salvador atravessa, infelizmente, um momento nebuloso no que diz respeito à segurança pública.
Sem respeitar a idosa cidade e nem poupar ninguém, assaltantes e criminosos agem impetuosamente e vêm inflamando os números da violência na terceira maior urbe do Brasil. Só para se ter uma ideia, segundo dados da Central de Telecomunicações (Centel), órgão da Polícia Civil da Bahia, 50 pessoas foram assassinadas em Salvador e região metropolitana, apenas nos cinco primeiros dias de 2009. A morte de 10 pessoas por dia no início do ano é o retrato do descaso e desrespeito por que passa Salvador. Esses assombrosos números atuais são incoerentes com a premissa de que aqui é a “terra da felicidade”, como disse Ary Barroso, fascinado pela Baixa dos Sapateiros, no final dos anos 30.
Tempos realmente idos. Porque os números aparecem, estampam as capas dos periódicos, e a violência continua em uma crescente. Nesta semana turbulenta na capital baiana, surgiram assassinatos das mais variadas modalidades, por assim dizer.
Teve crime passional, como o caso da deficiente auditiva Débora Almeida, morta dentro do ônibus, pelo ex-marido; bala perdida, que atingiu o pedreiro Daniel Lima Filho, no Engenho Velho da Federação; e o caso de Luan dos Santos, 18 anos, assassinado em plena sala de aula, no bairro de Vila Canária. Sem contar o professor ameaçado de linchamento por alunos do Colégio Estadual Padre Palmeira, em Mussurunga.
A implantação da Guarda Municipal, o aumento do efetivo da Polícia Militar (através de concursos), e o projeto dos Postos Policiais Móveis, em substituição aos antigos Módulos (que viraram alvos de bandidos), mostram que os poderes públicos não estão absolutamente omissos.
Mas a questão é que, mesmo assim, a população soteropolitana segue impotente e é a grande vítima desse quadro de violência descabida e desenfreada. Após soprar as velinhas de 460 anos, Salvador não ostenta mais aquele charme de permitir aos transeuntes andarem tranquilos pelas ruas e apreciando a paisagem. Diante disso, será que ainda “é bom passar uma tarde em Itapuã”? Certamente, nem Toquinho e Vinicius saberiam mais responder.

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