quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

a senha

Minha filha Ana Flávia, 12 anos, vai cursar a 7ª série em 2010. Entra comigo na Saraiva do Salvador Shopping e exclama: "eu necessito dessa agenda!", apontando para um trocinho feio e pequeno com o nome da revista Capricho e me puxando forte pelo braço. E insiste: "por favor, eu necessito!". Surpreso com a força da expressão, afinal necessidade é algo básico, vital, encontrei logo uma solução que me poupassem R$27,00 (sim, a agendinha custa R$27,00). "Você pode usar, então, uma das duas que ganhei de clientes no final do ano passado". Ela retrucou no ato. "Não, eu necessito dessa". Comecei, a partir daí, a duvidar da suposta necessidade que ela tinha de ter uma agenda. Ela não necessitava de uma agenda para tão somente fazer anotações, registros e coisas do gênero. Isso, que deveria ser o máximo, é o mínimo. Ela precisava (quer dizer, necessitava) de uma espécie de passaporte para entrar (ou se firmar) no grupo. Adolescentes não mudam. Os tempos mudam, algumas manias também, mas adolescentes não. Eles continuam cruéis, extremamente cruéis, no que diz respeito às diferenças. E estão cada vez mais segmentados e sem personalidade. Ana faz parte da tribo de menininhas que têm obrigação de seguir tudo o que todo mundo do primeiro mundo faz e gosta. Na turminha dela, todo mundo lê (ou, pelo menos, olha as fotos) Capricho, só ouve música e adere maneiras, gírias e trejeitos de fora do Brasil, e têm que acompanhar de perto High School Musical, RBD, Jonas Brothers e companhia limitada. Quem não se enquadra, tá fora! E isso é muito natural, sem grandes conflitos. Cada um vai para seu nicho, como ela mesma diz: "de boa na lagoa!". E antes que eu me esqueça, têm que achar Fiuk (caso você não saiba, é o carinha da foto lá em cima, que é filho de Fábio Jr. e ator de Malhação) lindo, assim como seus similares.


P.S.: Os pais também não mudam. Abri mão de um filme que ia comprar para levar a agenda.

2 comentários:

Rê Coelho disse...

Não querendo me meter na sua decisão... mas, talvez, o erro esteja nos pais.
Adolescência é uma fase pela qual todo ser humano passa. Se alguém tem um filho (e seguiu o curso natural das coisas), já foi adolescente um dia e deve se lembrar das futilidades que jurava serem essenciais para a existência.
Não digo que nunca li Capricho nem que nunca quis uma agendinha da moda só porque as minhas amiguinhas tinham. Mas eu sempre soube buscar alternativas quando não era tão vital assim ter tal objeto. Minha mãe foi uma das grandes responsáveis por esse meu pensamento até ecologicamente sustentável :) Ela sempre dava um jeitinho de reformar um fichário com colagens de fotos de revistas e de fazer uma agenda sóbria ("de gente velha") se tornar um acessório super da moda que todas as minhas amigas queriam ter igual. Isso tudo sem gastar R$30 em um pedaço de papel que se joga fora no fim do ano, muitas vezes sem nem usar até o fim.
Acho que quem tem que mudar são os pais. E deixar de lado o espírito adolescente que sobrou.
Mas só nessas horas.

Rodrigo Carreiro disse...

Educar uma criança hoje em dia é muito difícil. Por isso penso mil vezes em ter um filhinho meu correndo por aí