domingo, 13 de dezembro de 2009

o homem do samba-reggae

“Caetano, venha ver, aquele preto que você gosta está cantando na TV”. Esses versos, tão frescos no imaginário popular, são da canção Dona Canô, gravada por Daniela Mercury, no disco Feijão com Arroz. A letra dessa música fazia uma alusão à maneira peculiar que a matriarca dos Veloso se referia à aparição de Gilberto Gil, a quem Caetano Veloso já admirava, em programas de televisão. Mas será que você sabe quem é o autor dessa canção? Não? É o mestre Neguinho do Samba, o grande mentor do samba-reggae, que, precocemente, nos deixou neste ano de 2009.
Compor, certamente, era a menos conhecida de suas virtudes musicais, pois as inquietações na área percussiva predominavam. A batida que ele idealizou, marcou época na história da música. Era uma mistura saborosa do samba baiano com o reggae jamaicano, que resultou em um suingue indescritível, cuja sonoridade ganhou o mundo nos tambores do Olodum. “Nenhum artista baiano seria hoje tão famoso, se não fosse o batuque inventado por Neguinho do Samba, que atravessou as fronteiras do Brasil”, afirma o músico Carlinhos Brown.
E Brown está certo, porque além de abrir as portas para os artistas locais, que já começavam a aparecer, foi Neguinho do Samba, ainda maestro do Olodum, que fez desembarcar em Salvador nomes de peso do universo da música popular mundial. Primeiro foi Paul Simon, com quem gravou uma canção em 1990, e se tornou um grande amigo. Mas depois, quem imaginaria a presença de Michael Jackson por aqui? Pois é, em 1996, até o astro norte-americano foi seduzido pela idealização musical de Neguinho do Samba e veio gravar um clipe com o Olodum nas ruas e ladeiras do Pelourinho.
Porém, natural em artistas “gênios”, a inquietude mais uma vez se manifestou em Neguinho do Samba, quando, ao dar aulas de percussão nos Estados Unidos percebeu que não havia mulheres na turma. Voltou para a capital baiana intrigado e decidido a criar um bloco percussivo formado, exclusivamente, por mulheres e que tivessem dificuldades de inserção social. Promessa é dívida. Deixou o Olodum e fundou o grupo Didá, só com mulheres, cujo foco seria exercer arte, cultura e cidadania.
Aliás, toda a equipe do Beleza! Bahia é grata a Neguinho do Samba. É ele e sua Banda Didá, de forma brilhante, que fazem a abertura musical do programa Beleza Bahia, na TV Salvador. Inclusive a Banda Didá, também sob a maestria de Neguinho do Samba, fez um belo espetáculo de apresentação no coquetel de lançamento da Revista Beleza Bahia, no Espaço Villa Gourmet, causando grande emoção em todos os convidados. Enfim, a perda desse grande homem e artista, ecoa mais profundo que o som dos tambores que ensinou a tocar, e deixa uma lacuna incalculável no cenário da música mundial. Portanto, hoje é a Bahia e o mundo que cantam para ele a própria canção que ele fez e aplaudem “aquele preto que você gosta”.

2 comentários:

Daniel disse...

Clap,clap,clap...
Ta ouvindo???
Esses aplausos são para vc!!!
rsrsrsrsrsrs...

Anônimo disse...

Indescritível mesmo é essa sua intimidade com as palavras...
boa, muito boa.