
O fotojornalista Paulo Munhoz, professor e responsável pela curadoria, explica que o mote do trabalho é provocar no discente um olhar crítico sobre o mundo em que vive e convertê-lo em texto jornalístico imagético. “Alguns alunos nunca tinham caminhado pelo Centro de Salvador. Esse exercício lhes revelou que as ruas possuem vida e tramam enredos que fogem ao nosso olhar”, diz. O nome Ruas Vivas nasceu, justamente, da ideia primordial do projeto. “Transformar coadjuvantes em protagonistas, atores essenciais à vida urbana, a sua existência econômica e estética”, define a acadêmica e uma das coordenadoras da exposição, Cláudia Correia.
Realizar um trabalho fotográfico, onde os atores estão desacostumados com o papel principal, é uma tarefa árdua, mas gratificante. “Após fotografar em vários locais da cidade, como Barris e Calçada, foi divertido conversar com um mendigo e até fugir de um louco”, conta a aluna e fotógrafa Sheiliane Silva. Embora não existisse um delimitador de região, a maioria das fotos foi realizada no Centro da cidade e nas periferias. “Nos bairros, cujos moradores têm condições financeiras mais elevadas, esses personagens foram banidos. Restaram ruas assépticas e maquiadas”, explica Munhoz.
Na exposição, há imagens sob vários ângulos e concepções, que carregam seus discursos próprios, além da imagem pura. Fotos mais densas, como a de uma mulher, sentada em um banco no Campo Grande, delirando com uma chaga na perna, de Sheiliane Silva; mais leves, como a de um vendedor que cochila ao lado das bolas, feita por Clarissa Avelar; e transcendentes, como a de uma mulher negra, lavando roupas no Parque do Abaeté, acompanhada por sua filha, realizada por Cláudia Correia. Entre os visitantes da mostra, o funcionário público Edvan Miguez gostou do que viu: “São fotos que contemplam fielmente a Salvador dos esquecidos e excluídos, principalmente pelos órgãos oficiais”, comenta.
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