segunda-feira, 23 de outubro de 2006

minha casa

Estive ontem (23), na Concha Acústica prestigiando o show do magnífico maranhense Zeca Baleiro. Isso me lembrou reouvir os discos dele (tenho os 5, e ainda aquele em parceria com Fagner). Considero-lhe, ao lado do pernambucano Lenine, do paraibano Chico César, do baiano Carlinhos Brown, dentre outros, um dos ícones da música brasileira. No deleite da canção "Minha casa", dele próprio e faixa de abertura do CD "Líricas", percebi, como acontece em muitas outras músicas, uma identificação ímpar comigo. Resolvi postar. É uma canção sobre realidade e como diz o autor: "de esperança, apesar do aparente desencanto".


é mais fácil cultuar os mortos que os vivos
mais fácil viver de sombras que de sóis
é mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro
não quero ser triste
como o poeta que envelhece lendo maiakóvski na loja de conveniência
não quero ser alegre
como o cão que sai a passear com o seu dono alegre sob o sol de domingo
nem quero ser estanque como quem constrói estradas e não anda
quero, no escuro, como um cego, tatear estrelas distraídas
amoras silvestres no passeio público
amores secretos debaixo dos guarda-chuvas
tempestades que não param
pára-raios quem não tem
mesmo que não venha o trem, não posso parar
vejo o mundo passar como passa uma escola de samba que atravessa
pergunto onde estão teus tamborins
sentado na porta de minha casa
a mesma e única casa
a casa onde eu sempre morei

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