Morena, uma cadelinha de rua, que fez da porta da minha casa, sua residência, foi atropelada na última segunda (15), à tarde. Ela transitava por lá, como sempre faz, ao ser atingida por um motorista irresponsável. E ele é realmente imprudente porque o local é uma rua sem saída, predominantemente residencial e cheia de quebra-molas, visto que, além das casas, há duas escolas que atendem a crianças especiais. Portanto, é quase impossível cometer um acidente desse tipo sob essas condições. Ele tentou se redimir do grave erro e conduziu Morena, em companhia de meu irmão Rogério, ao Hospital de Medicina Veterinária (HOSPMEV), órgão vinculado à Escola de Medicina Veterinária (EMV), da Universidade Federal da Bahia (Ufba). E é aqui que começa minha indignação.
Eu soube do ocorrido, superficialmente, ontem (16), no final da manhã. Tinha compromisso à tarde, mas contei com a compreensão da diretora da empresa em que trabalho, e fui ao Imbuí buscar Morena para levá-la novamente ao HOSPMEV, em Ondina, conforme recomendação dada na segunda-feira pelo médico que a atendeu. O que ficou diagnosticado foi que ela teve uma luxação na pata traseira direita (o fêmur saiu do devido lugar, mas não houve fratura). Esse quadro, obviamente, deixou o animal em estado de forte dor, aliada a inibição de excreções fisiológicas, principalmente fezes, e vômitos, apesar da falta de apetite.
Cheguei, também junto com meu irmão Rogério, ao HOSPMEV ontem, às 15h. Nunca tinha ido lá, só ouvido falar, e achava que era uma espécie de serviço público de saúde animal. Se a primeira impressão é a que fica, a minha foi péssima. Logo na entrada, o porteiro, com aquele comportamento típico do "tô nem aí" levou uns cinco minutos para abrir o portão, apesar de avisado por transeuntes sobre a minha presença, enquanto eu aguardava com a parte traseira do carro tomando um bom pedaço da avenida Adhemar de Barros e causando certo perigo ao trânsito local. Sem nem olhar para minha cara, como se me fizesse um imenso favor e de má vontade, ele lentamente puxou a grade enferrujada. Não tinha vaga. Como diz Faustão, me virei nos 30 segundos e coloquei o carro numa brecha improvisada que encontrei, enquanto Morena despejava um vômito no interior do carro.
Quando Rogério tirou ela do carro e colocou no chão, já dentro do pseudo-hospital, ela urinou. Havia um certo tempo que ela não fazia isso, portanto foi algo aceitável. Mas a urina ficou lá. Ninguém limpou. Não havia funcionário responsável por isso. Outras pessoas e cães passaram, pisaram e a urina secou. Antes de ser atendido, dei uma olhada ao redor. Muita gente. Calor. Moscas. Fedor. Sujeira. O piso estava absurdamente encardido. Pensei e lamentei: esse é mais um retrato de um serviço público gratuito no Brasil. Foi certamente por isso que sequer limparam o xixi de Morena e esse quadro lastimável que relatei. Ledo engano. O HOSPMEV não presta nenhum tipo de serviço público de graça. Tudo lá é pago. Têm as máquinas de cartão de crédito (para parcelar em, no máximo, duas vezes, o valor tem que ser acima de 100 reais) e tabelas de preço de todos os procedimentos. O cliente mal avisado terá custo até se for levar seu bichinho para cortar as unhas, imagine um procedimento cirúrgico, como o caso de Morena? Acontece que lá tem toda a "cara" de um serviço público, que em nosso país significa desrespeito e imundície, mas não é. Nós estamos tão agredidos com as mazelas dessa nação nojenta, que se fosse gratuito, eu suportaria. Retado, mas calado. Porém, como diria Lady Kate: "tô pagando"... aí não dá!
Tivemos um atendimento bem ruim logo na recepção. O funcionário agiu como quem "não gostou" que tivéssemos levado ela às 15h. Ele considerou um horário tardio. Tomamos uma bronca dele! Mas ele achou tardio pelo seguinte. O horário de atendimento do HOSPMEV é hilário: de 8h às 10h30 e das 14h às 15h30. Depois do "escalde", foi a vez do chá de cadeira (aliás, um banco todo por um e de assento duro e exageradamente desconfortável), de duas horas, em meio àquele ambiente horrível e angustiante. Como é possível um hospital com um quadro composto por 10 médicos veterinários, um farmacêutico, dois biólogos e infinitos estudantes, o paciente esperar duas horas para ser atendido? E pagando por isso??? Parece piada de mau gosto. Antes fosse.
Na hora do atendimento (coletivo por sinal, pois já tinha um gato lá...???... e depois entrou outro cachorro), mais decepção. Nítido desdém por parte da equipe médica, pois enquanto uns atendiam, outros conversavam, tiravam e esclareciam dúvidas, entravam e saíam... um desrespeito geral. Apesar de terem recomendado trazer ela logo no dia seguinte e da demora no atendimento pouco personalizado, o especialista em ortopedia animal não estava lá. Morena foi amordaçada com uma fita de nylon (como assim???)! Isso mesmo, uma fita de nylon improvisada que a veterinária chamou de mordaça ao ir buscar. Após analisar a radiografia, a médica disse que o recomendado é a cirurgia mesmo, visando a amputação da cabeça do fêmur, com garantia de que ela iria andar normalmente e sem sequelas. Pedi o orçamento. Incluindo anestesia e materiais, a cirurgia custa 380 reais. Como um cão doente e espumando de raiva, cutuco Renato Russo e pergunto: "que país é este"?
P.S.: além da pergunta oriunda da canção de Russo, há uma outra questão mais particular. Visto que todo mundo ali é funcionário público e a estrutura é consideravelmente precária, para onde vai esse dinheiro?